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Textos | Texts 

"Arte vestível no tapete 3: merece um trecho de Clarice Lispector, como significado e motivação. Ei-lo:
... estava na hora de se vestir: seu corpo era firme e forte, um dos motivos imaginário que fazia com que Ulisses a quisesse; escolheu um vestido de fazenda pesada, quase sem modelo, o modelo seria o seu próprio corpo. Mas enfeitar-se era um ritual que a tornava grave: A fazenda já não era um meio tecido. Com o seu corpo ele dava corpo – como podia um simples pano ganhar tanto movimento
Essa é a experiência que se tem com um vestido criado por Rosane:
As fazendas já não são um mero tecido. Elas enriquecem o que envelopam, isto é, a nós, os seus manequins. Um pano perpassado pela criatividade da Rosane ganha muito significado e acrescenta significado a quem o veste.
É demais vestir uma obra de arte.
Obrigadíssimos por esse presente que tu nos dás, Rosane. "

Esther Pillar Grossi, educadora e fundadora do GEEMPA

"Encantada com a liberdade e a delicadeza da tua arte. Tem a fluidez do vento e uma inconfidência encantadora. Sou bisneta de uma mulher alfaiate (nunca conheci outra), neta, sobrinha, filha, irmã e nora de modistas. Fui criada entre panos de todas as espécies, brincando que piquê amarelo era favo de mel, organza furta-cor era asa de cigarra e astracã eram ovelhinhas. Ainda bem que o ato de vestir não é feito só de moda padronizada, cara e exibicionista. "

Rosina Duarte, jornalista

"Rosane Morais faz roupas de modo muito singular. Sobre sua criação, inspirada em suas ideias escrevi o que segue: O pano, o tecido é a segunda pele que cobre, que abraça, que protege a primeira pele, a qual envolve a trama da vida, condensada no corpo. Nas roupas ordinárias além do tecido há emendas, portanto, alinhavos, alfinete, linha, agulhas, e pontos. Enfim há costura nas roupas convencionais. Nas roupas de Rosane a proposta é de não costuras e sim dobras. Com cortes, mas sem costura. Um pequeno auxiliar substituindo as costuras nas roupas dela são as joaninhas – seguranças. Segurança de que não se partiu a segunda pele, que se garantiu uma unidade semelhante à da primeira. Que se respeitou a trama global. Que a coesão não foi destruída. Que foi garantida a integridade das inter-relações que tecem nossas lembranças, as quais nos constituem. Na palavra de Sara Pain, “nós somos nossas recordações”, entrelaçadas de modo singular, com a classificação e a hierarquia, que cada pessoa escolhe e decide. As roupas de Rosane têm conforto, aconchego, liberdade e muitíssima criatividade. Elas refletem o sabor que a Rosane sente pela vida e que deve perpassar para quem vai vesti-las. Por sua originalidade estupenda, suas roupas são lindas. E elas são obras de arte."

Esther Pillar Grossi, educadora e fundadora do GEEMPA 

"A humanidade ainda não começou

Ainda é preciso batalhar muito e muito a fim de que as mulheres ocupem espaços e contribuam com seu indiscutível e imenso potencial para a História Humana. Por isso, Valter Hugo Mãe tem razão: "A Humanidade ainda não começou". Ainda não somos verdadeiramente humanos. Faltam-nos elementos fundamentais, com a superação de imbecilidades como racismo, machismo e homofobia. Matar mulheres como acontece diariamente por violência masculina é ignóbil e absolutamente insuportável. Salários desiguais para mulheres pelas mesmas tarefas executadas por homens. Muito menos mulheres em cargos de chefia e mesmo dentre passageiros de avião escancaram um mundo que ainda nem sequer chegou a uma igualdade de sexos.

Homenagear mulheres que se salientam por seu valor, contribuindo significativamente para a felicidade no mundo é nossa intenção neste 8 de março.

Santa Celia Santos – chef de cozinha – , Claudia Lee Williams Fonseca – pesquisadora – e Rosane Morais – artista – representam todas as demais mulheres que estão maravilhosamente mostrando que a Humanidade é possível.

Santa Celia Santos tem 75 anos. É uma magnífica chef de cusine o qual com seu talento e garra gerou e educou 7 filhos, dos quais resultou mais 49 descendentes diretos. É uma mulher que espalha otimismo e bom humor, enquanto prepara pratos deliciosos.

Rosane Morais com 60 anos, funcionária aplicada há 37 anos no Banrisul, fez a proeza de desenvolver paralelamente este compromisso profissional uma sensibilidade e uma criatividade que a torna artista de excelência, extremamente fraterna em suas amizades.

Claudia Lee Williams Fonseca, caracteriza-se menos por ser uma pessoa nascida nos Estados Unidos, e muito mais porque ela é alguém do mundo. Já viveu na Europa, na Ásia, na África e, há muitos anos, reside em Porto Alegre. É uma incansável pesquisadora em Antropologia, renomada e referência na sua área, renomada também por sua acolhedora simplicidade, carregada de afetos.

Através delas três, sintam-se homenageadas todas as mulheres que tendo ou não consciência do etnocentrismo masculino, deixam sua marca inteligente e afetiva ao seu redor." (texto original publicado aqui)

Esther Pillar Grossi, educadora e fundadora do GEEMPA

"Rosane Morais usa um termo em alguns de seus trabalhos que pode abarcar a sua obra em certa medida: memórias em movimento. Os panos, em um primeiro momento enrolados e/ou dobrados, estão carregados de memórias. As memórias dessa artista sensível que usa a linha para desenhar e escrever em seu diário, inusitado pelo seu tamanho (já que são metros de tecidos), o deixa ao lado da cama para servir de receptáculo para as mais íntimas confissões, anseios e desejos que, misturados a ações e fatos do cotidiano concebem um inventário pessoal. Esse pano que absorve os sentimentos e fatos também serve como abrigo. Envolver-se nele significa experimentar o momento, trazer movimentos às tramas ali depositadas – o passado e o presente sem compromisso com a ordem dos acontecimentos – e apenas desfrutar o instante fugaz. A linha é a palavra-chave de Rosane, e ela vive intensamente a sua própria poética pela linha da vida, do tempo e do desenho. O branco remete à paz, à candura; o tecido fino, por vezes transparente, acumula camadas e se pode ver e sentir através dele. O que nos é sugerido é uma aproximação com o tecido e por meio dele chegar à vida-tempo-espaço-movimento. A sensibilidade aflora à pele de Rosane e de quem compartilha do seu trabalho. A costura que faz cesuras no tempo e que tece seu fio pelo emaranhado da vida nos é dada como uma meada de linhas pronta para ser desenrolada, é só se deixar levar."

Ana Zavadil, curadora de arte

"Rosane é uma artista plástica gaúcha que tem este magnífico trabalho sobre dobras, cortes, seguranças. Ela fala da roupa como sendo uma segunda pele da qual “…cobre, envolve, abraça, protege a primeira pele”. Primeira pele esta que é a do nosso prório corpo chamada por ela de “a trama da vida”. O fio e a linha por ela é assimilado como linha do tempo. À qual a artista compara com nossa pele – na qual deixamos marcas, recordações, lembranças. Em forma de cicatrizes, manchas, rugas… nossa roupa seria tal qual nossa vida. Em suas palavras, ao explicar sua pesquisa, ela conta: ‘É como nossas vidas. […] a primeira pele traz recordações, saudades, apego, rituais de passagem […]. Propondo então uma roupa com dobras ao invés de costuras, trava de segurança ao invés de pontos, Rosane é mais do que uma estudiosa da pele. Ela é uma autêntica artista. Com seu trabalho regressou no tempo antes da era do vestir-se; nos libertou das regras, do padrão do acabamento, da costura que nos aprisiona para nos trazer, em pleno século vinte e um, a liberdade dos primórdios. Onde o pano tinha exclusivamente a função de cobrir o corpo. Nos seus vestidos encontramos toda essa função primordial com muita bossa e contemporaneidade.  

Acreditei tanto no trabalho da Rosane, achei ele tao singular, que aproveitando a oportunidade de estar em São Paulo, eu e a Nicole fizemos uma produção com um dos vestidos e ela foi ao trabalho com ele, pois eu sabia que ia dar o que falar. A

Nicole ligou da Abril dizendo que precisou desfilar por todos os setores da editora. E não é que o tal vestido tinha causado o maior alvoroço mesmo! Então surgiu a possibilidade de fazer um artigo na revista Claudia. Preparem-se porque daqui a uns

dias talvez possamos ver a artista nas páginas da revista."

Tânia Schirmer, pesquisadoora e consultora de moda

"A artista plástica Rosane Moraes conta na sua trajetória com mais de 30 anos de Atelier Livre. Rosane expõe desde 1976, em espaços culturais do Rio Grande do Sul e Brasil. Em 2010 apresentou seu trabalho em Punta Del Este no Uruguai.

Desde pequena a artista plástica achava que não precisava de réguas e compasso. O desenho abstrato sempre foi uma de suas marcas. Para ela, não há limites de onde estará a sua obra, pode estar nas paredes, vidros, acessórios pessoais ou mesmo em tecidos. O principal desafio surgiu em 2005 quando a artista plástica recebeu um texto sobre cicatrizes invisíveis. No princípio realizou um verdadeiro laboratório de pesquisa na busca de si e as representações das emoções. O desafio era materializar marcas psicológicas como dores, alegrias, sentimentos até descobrir que as principais cicatrizes da historia de cada pessoa estavam na pele. O recurso da fotografia foi uma importante ferramenta para o resultado do que é hoje o tema do seu trabalho: “Pele Envelope do Corpo.”

A pele marca o nascimento, a vida e a morte e é a imagem de seu trabalho. O fio, a teia, a agulha e a linha costuram as imagens projetadas no tecido e na roupa, é como costurar a pele e representar o momento seja ele qual for.

O trabalho pode ser visto nos vidros onde flores, cascas e frutas envoltas em tule e em contato com o ar, mostram o efeito do envelhecimento e da decomposição a transformação da forma em outras formas diferentes.

Por outra ótica, a pele é estampada em bastidores com a sobreposição de imagens reais que se misturam a textura leve e transparente do tule. São bastidores re remetem a histórias de vidas ou eternizam momentos significativos. Cada bastidor bordado cuidadosamente como células de um corpo flutuam em caixas pretas emoldurando a ausência de cor e luz.

Surgem então, os vestidos como envelope do corpo, não há costuras somente o corte em diferentes modelos e adornados com elementos circulares elaborados cuidadosamente com o próprio tecido, não há botões ou casas, somente seguranças, as conhecidas joaninhas, todas ocultas pelo tecido para moldar o traje e esconder os medos do universo feminino."

Karen Cunha, assessora de comunicação

"Palavras sobre a pele: Vida, risco, molde, modelo, corte, recorte, casa, abrigo. 
Sua arte como um lugar por onde se passa a fazer parte do seu universo. Consideremos os pontos de seu interesse, para que possamos entender e trazer para o nosso mundo, um pouco das inquietações e questionamentos da artista que transforma o desenho, a escrita, cortes e recortes em tecidos que nos contarão sua história e seus desejos. 
Contar sua história sobre panos (tecidos brancos que servem para cobrir ou envolver) através da escrita, como representação do pensamento e da palavra por meios de sinais, caracteres adotados num determinado sistema de representação gráfica, e é a representação da linguagem falada por meio de signos gráficos que nos transmite um modo pessoal de expressão, cria um estilo, uma marca, como um sinal para se fazer reconhecer numa impressão ou sensação deixada pela experiência de re-conhecimento nosso através da obra apresentada. Sinal que serve de assinatura."

Daisy Viola, artista plástica e professora de arte

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